Política e Estética
Marta Arruda [1993]
Nossa versão tem começo na velha terra de Garibaldi: o jovem Pino, ajudado pelos familiares, tentou esconder uma gráfica de grande porte, depois de o jornal de sua propriedade ter sido oficialmente fechado por questões políticas. Perseguido, no entanto, procurou asilo na Espanha, onde veio a conhecer a militante política Ana Diaz Robles, descendente de atores teatrais especialistas em peças satíricas. Com o passar do tempo, teve de novamente partir, agora em busca da América, ou mais precisamente Buenos Aires, tida na época por toda a Europa, como capital do Brasil. O casal, ao passar pelo Rio de Janeiro, conclui que militância política com uma paisagem daquelas seria outra coisa. Teria outro clima. Era o predomínio do estético.
2º TEMPO
Vão vivendo no país e o faro político não sossega. Outra vez monta uma gráfica, instalada no centro da Capital da República. Mas prevê a importância da futura capital industrial brasileira, São Paulo, e, consequentemente, se transfere para lá. Ânimos acirrados, a luta operaria avizinha-se, e lá encontra-se o casal de mala e cuia. Era o predomínio do político.
3º TEMPO
Falece o marido. Desgostosa, Ana volta para o Rio de Janeiro, com três dos filhos. Pepe, o mais velho, cuida do parque gráfico em São Paulo. Pepe também é ator teatral e estréia no Conservatório de São Paulo, no confronto anual entre turmas estudantis de SP e RJ. Pepe e Procópio Ferreira são as estrelas, um de cada lado.
Com o sangue político fervendo na veia, Pepe se faz locutor durante a Revolução Paulista, transmite noticiário em espanhol (internacional) e César Ladeira transmite o noticiário nacional. Luciano, o irmão, parte para as atividades jornalísticas no Rio, ao lado de Romeu Pino, (presidente do Sindicato dos Gráficos). Por esse tempo nasce o filho de Luciano, Wlademir Dias Pino, dentro de uma gráfica cercado de tipos por todos os lados. Aprende a ler quase ao mesmo tempo que começa a falar. É que Laura, sua mãe, por estar diante do primeiro filho, quer-lhe ensinar as letras através dos próprios jornais editados pelo marido. Jornal/cartilha, fugindo do tradicional. Talvez essa pedagogia tenha dado ao poeta-desenhista a radicalidade de inteiração, fundindo a imagem e a escrita. Na verdade, há uns cinqüenta anos vem Wlademir Dias Pino desenhando famílias de tipos e chegou mesmo na época do Laboratório de Pesquisas Visuais a criar uns quinhentos alfabetos para ser escolhida uma tipologia adequada à UFMT. É seu lado irônico e desmistificador. Isto porque se sabe muito bem que até mesmo as multinacionais (nenhuma delas) têm tal luxo. Ironia? Paixão, talvez! Coisas de poeta.
4º TEMPO
Wlademir vem agora com essa exposição de 1.994 tipos de A//a diferentes (um ano à frente, no lançamento) e faz questão de cultivar suas contradições (já que ele, de há muito, afirmou que o poema se faz sem palavras) um baita elogio ao A//a. tem o focal de um rótulo, a fibração de uma malha de ginástica, a cor ácida de uma efervescência. O A//a se transforma de um objeto escultura a uma cena de teatro. São letras que não têm o caráter desenhado, mas são planos não frontais.
Portanto, Wlademir Dias Pino, o pai de A//a contemporâneo.
Marta Arruda
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