Da inquietude temática
Vicente de Percia [1993]
O progresso científico no Ocidente tem levado o Homem a confrontar-se com um certo experimentalismo e porque não afirmar, a busca de uma pesquisa própria, que o coloque frente a questionamentos. Como sentir o mundo, vivenciar e indagá-lo na sua pluralidade.

Wlademir Dias-Pino apresenta a individual “Sétimo Elogio ao A//a” o título já demonstra sua ironia, própria de um Ser constante, admirado e questionador no circuito das artes.

O artista tem como tarefa criar os “A//a” numa possível esfera dentro de um computador envolto numa dinâmica de criar maior número de leituras. Estamos diante, por exemplo, também, da Percepção Residual onde mediante a criação de mil novecentos e noventa e quatro A//a, o público passa a ver um desdobramento sem limites. Cada indivíduo passa a co-participar a partir do momento em que a obra de Wlademir permite romper com certas linguagens preestabelecidas e direcionadas, permitindo um repensar no Fazer. Serve de ponte da constante criação que nos circunda, em particular, ao Homem que colabora ou sente a necessidade de esclarecer e reivindicar até o fim de seus dias.

As cores, formando um todo são, o primeiro estágio que assegura a emoção de arte e qualidade reais, onde o movimento mexe com o inconsciente e consciente, com a forma e a contra-forma, o avesso e o direito, imprimindo conteúdos perigosos e atraentes.

É o que chamamos “Questão de Código”. O código tem uma direção única na medida em que o autor faz de dois A//a uma luta contra a arbitrariedade dos códigos. Fica claro que a letra A//a não tem a característica de desenho – a letra tradicional sim, a letra assume o compromisso com a escultura. Esse compromisso de Wlademir Dias-Pino é um trabalho com volumes, mas não volume figurativo, pois, a obra parte para abstração, principalmente, por estar em nível com o leitor.

O A//a tanto é maiúsculo como minúsculo, o que rompe com o senso de direção, portanto, a letra adquire ângulos que a superfície do papel não têm, é a criação de volumes imaginários. Observa-se o espaço ocupado pela cor mas sem a figuração de mancha e relevo que, como já foi dito, é o espaço entre o material e o leitor, ou seja, a distância entre a letra e o leitor, é um trabalho de volume horizontal.

Wlademir Dias-Pino é sem dúvida um ativador que se presentifica na pesquisa, situando o interior do Homem, mostrando o conhecido-desconhecido, o mágico e o dinâmico, impregnado de um potencial que permite chegar a fenômenos que nos circundam, mas que à primeira vista parecem irracionais. A objetividade do artista mostra nosso tempo e se manifesta com grande evidência na arte.

Vicente de Percia
Vice-presidente da associação Brasileira de Críticos de Arte e membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (A.I.C.A.)

Rio, Agosto de 1993

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