Sétimo Elogio do A//a
Wlademir Dias-Pino [1993]
Nossa escrita parte de uma convenção horizontal (esquerda-direita) e não da direita de uma indicação visual de ponteiros (Intensivismo, Cuiabá 48/52) ou mesmo da angular de A AVE. Para facilitar o fluxo da leitura as letras são essencialmente frontais. Contra esse sentido ordinal do código alfabético os Intensivistas, já naquela época, gritavam: a escrita é perfil! A escrita é frontal!
Era o caminhar do frontal se fazendo de perfil na mesma manobra do acúmulo das linhas horizontais escritas e resultantes da verticalidade da coluna. A verdade é que se as letras tivessem diversidade de pontos de fuga, a leitura talvez não fosse tão “prática”. A letra A nos parece a mais explicativa nesse sentido, isto porque sua própria cabeça é o vértice.
Na Renascença, um homem pondo as mãos nos ombros de uma mulher, e ela pousando as suas na cintura desse homem, estava dando idéia daquela letra capitular de um período que falasse de Adão. Assim a letra formada pela imagem para se diferenciar da palavra que, ao contrário, formava a imagem (literária). É justo que na vez de nossa época os blocos de cores, ao arquitetarem a letra, nos levem à escultura, onde habitam, o sim de outras intenções.
O código só é, o quer que isso seja, código por ter uma única direção. Um A só pode ser um A bem maiúsculo. Em alguns casos, ao se conseguir um A que seja, ao mesmo tempo, maiúsculo e minúsculo, estamos criando uma ambigüidade para o código. E estamos pondo em xeque o arbitrário código. – Viva o A de alienista!
O colorido projeto permite versões de formas bastante forte e o “decorativo”, ao percorrer os espaços, torna-os ambientais.
É preciso o exercício de distorção de letras.
Escrever é preciso pelo avesso.
Então, depois da inesperada descoberta o macete para uma letra A, virando-a parece um V e, se por acaso, ela toma uma direção, se transforma em < e, ao contrário, num >. Agora, se se acresce um bastão, temos um p, um q, um b, ou um d. A questão é que durante o passar dos séculos e suas mudanças, o alfabeto foi adquirindo um eixo de seixos rolados.
É na direção da parte central que o A se relaciona ou se opõe ao R, mas é também no meio que, às vezes, ela se funde com o M.
O ideal mesmo seria criar uma letra A que jogada dentro da esfera de um computador suportasse inúmeras deformações de leitura. Nos casos de um número maior de três dimensões de leitura estaria aprovada a sua superioridade sobre o sentido do objeto.
Ao vivo, essa preocupação de direções de leituras e distanciamento vem o tempo do poema Intensivista.
Sendo as áreas das letras (e os contra-espaços = vãos) proporcionais entre si, talvez se possa dizer que essas áreas matematicamente são “redondas”, embora a massa angular seja visualmente geométrica. Há nelas uma área não visual.
O que se pretende é um deslocamento múltiplo e simultâneo do leitor, ao mesmo tempo, um feixe angular de espaços reflexos. As inversões de aprofundamento mútuo e até mesmo a troca de letras fazem parte do jogo dessa ginástica.
Wlademir Dias-Pino
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